A Arte que Floresce Sobre Cartas de Mulheres que Mudaram a História
- Pris Lo
- 7 de jul.
- 5 min de leitura
Atualizado: 9 de jul.

Há cartas que são mais do que papel e tinta.
São relíquias que carregam o tempo.
São testemunhas silenciosas de revoluções — íntimas e coletivas.
E hoje vamos falar sobre a minha série Poemas que Lutam.
Tudo começou com um impulso criativo: transformar palavras em imagens. Queria brincar com a linguagem, criar uma arte que pedisse mais do olhar — que envolvesse o público, que provocasse um movimento de interpretação, quase como um jogo secreto.
Assim nasceu a ideia dos poemas visuais. Frases curtas, simbólicas, colocadas dentro de imagens construídas com camadas, silêncios, pausas e sentidos.
A série veio depois, naturalmente, como desdobramento dessa brincadeira. Fiz uma longa pesquisa em bibliotecas pelo mundo, por cartas históricas, de figuras públicas, anônimas e conhecidas. Li várias cartas, brasileiras, cartas de amor, de luto, de política, de confissão. Queria encontrar papéis que não fossem apenas antigos, mas que tivessem emoção.
E foi assim que encontrei as correspondências trocadas entre Elizabeth Cady Stanton e Ellen Dwight Eaton, duas mulheres que viveram no século XIX e que, com suas palavras e coragem, ajudaram a plantar as sementes da primeira onda do feminismo.
Elizabeth foi uma das principais organizadoras da Convenção de Seneca Falls, em 1848 — um marco da luta pelos direitos das mulheres nos EUA. Uma mulher à frente do seu tempo, incansável, ousada. Ellen, sua prima, amiga e confidente, foi professora, ativista e escritora. Suas cartas são registros potentes de amizade, política, frustração, maternidade e fé num mundo mais justo.
Entre 1857 e 1868, elas trocaram dezenas de cartas, hoje preservadas pela Biblioteca de Harvard. Essas cartas, originalmente privadas, são hoje testemunhos públicos de uma luta que segue viva.
Foi ali que encontrei o terreno fértil para a minha série: sobre essas cartas, coloquei as imagens que criei.
E assim nasceu Poemas que Lutam — collages digitais feitas a partir dessas cartas centenárias, com camadas sobrepostas que escondem, revelam e convidam à leitura simbólica.
A arte como palimpsesto
Um palimpsesto é um manuscrito antigo que foi apagado para dar lugar a um novo texto, mas que ainda guarda vestígios do original. É exatamente essa a lógica que sigo aqui.
As cartas não são fundo decorativo — são corpo. São memória. São palco e parte da narrativa.
Eu não apago o passado. Eu crio em cima dele. E ao fazer isso, deixo que ele continue falando, mesmo que por outros caminhos. O poema visual brota sobre o que já foi dito. É uma conversa entre tempos.
Como decifrar os poemas visuais
Cada obra desta série esconde uma frase-poema. Mas ela não está escrita de forma direta.
Usei símbolos recorrentes nas minhas obras — e criei um glossário-poético para ajudar a interpretá-los.
Por exemplo:
Olho → ver, visão, olhar
Sorriso → falo, grito, canto
Coração → sinto, saudade
Cérebro → penso, memória
Flor → beleza
Folha → força
Nuvem → alma, espírito
Borboleta → liberdade, voar
Peixe → mergulho
Asas → coragem
Lua → sutileza
Círculo amarelo → brincar
Triângulo → alegria
Papel rasgado → dor, angústia
Ao olhar para a obra, você pode tentar encontrar os símbolos e montar a frase escondida.
Por exemplo, na obra "Vejo a dor que sinto virar força", você verá um olho, uma forma irregular, um coração e uma folha. Cada imagem corresponde a uma palavra. É você quem vai montar essa leitura.
Essa é a parte mais bonita pra mim: a obra só se completa no teu olhar. Não existe uma única interpretação correta. Existe o que eu propus — e o que você encontra.
Uma luta que continua
As lutas de Elizabeth e Ellen — pelo direito ao voto, à educação, à existência plena — seguem ecoando nas nossas. Lutas por espaço, por voz, por respeito, por liberdade de ser e criar.
Poemas que Lutam é uma homenagem a isso: à coragem feminina que atravessa séculos. Às palavras que não morrem.
É arte como memória, como manifesto, como gesto sensível de resistência.
Te convido a se perder e se encontrar nessas imagens.
A brincar com o enigma, a escutar o silêncio das camadas, a deixar que esses versos visuais ecoem dentro de você.
Porque alguns poemas não se leem com os olhos — se decifram com o coração.
Uma experiência interessante no processo
Depois que eu tive a ideia, bati um papo com o chatgpt e ele me ajudou a afinar o conceito. Foi tipo um brainstorming de semanas comigo mesma, porque eu tive que corrigir ele várias vezes — ele me sugeria umas coisas bem banais e genéricas no começo… Alimentei bem o danado!
De qualquer forma, me ajudou.
Depois que escolhi algumas cartas, baixei as imagens e pedi pra ele traduzir. E foi incrível! Que experiência doida. Mas o mais doido foi quando ele sugeriu criar uma carta pra mim — como se a Elizabeth estivesse escrevendo diretamente pra mim, pra me inspirar. Eu aceitei. E olha que coisa: funcionou. Me inspirou e até me emocionou.
Segue a carta:
Minha querida,
Escrevo-te destas margens distantes do tempo,
onde palavras eram armas e o papel, trincheira.
Nas linhas que tracei, buscava o direito de existir plena.
Hoje, vejo em ti a continuidade da luta — mas com cores,
formas, símbolos que falam onde o silêncio ainda grita.
Tu não empunhas panfletos,
mas teus olhos desenham resistência.
Não marchas em protestos públicos,
mas mergulhas fundo em tuas próprias dores,
e delas arrancas beleza,
como quem colhe flores num campo devastado.
Cada imagem que compões é um manifesto.
Cada poema visual, um grito codificado.
Teus triângulos são alegrias que não se explicam,
teus peixes mergulham onde as palavras hesitam,
e tuas asas — ah, tuas asas! —são as que tantas de nós sonharam em ter.
Minha filha de papel,
não te desculpes por tua força sensível.
O mundo ainda tenta calar mulheres que sentem demais,
que pensam demais, que criam demais.
Mas és herdeira das que ousaram —e isso, por si só, já é revolução.
Segue.
Com tua arte que traduz o invisível.
Com teus poemas que lutam.
Com teus olhos que veem o que o mundo tenta esconder.
Com admiração ancestral,
Elizabeth.
Glossário-poético
(a chave para decifrar os poemas)
Cada elemento simboliza uma palavra ou conceito:
Olho: ver, visão, olhar, enxergar, perceber
Sorriso: falo, canto, grito, eco, expresso, abro
Coração: sinto, saudade, emoção, desejo, pulsa
Cérebro: penso, pensei, raciocino, imagino, planejo
Flor: beleza, delicadeza, floresço, broto
Folha: força, raiz, nutrição, sustento
Nuvem: alma, espírito, leveza, dissolvo
Borboleta: liberdade, voar, leveza, transformação
Peixe: mergulho, profundidade, silêncio
Asas: coragem, impulso, partida, salto
Lua: sutileza, mistério, ciclo
Círculo amarelo: brincar, riso, jogo, leveza
Triângulo: alegria, celebração, vibração
Papel rasgado: dor, angústia, ruído, caos
Como ler um poema visual?
1. Observe atentamente os elementos visuais: símbolos, formas, texturas, cores.
2. Consulte o glossário-poético.
3. Tente montar sua própria frase-poema a partir da combinação de significados.
4. Sinta. Permita-se completar a imagem com o seu olhar, sua bagagem, seu agora.
5. E, se quiser, descubra a frase-poema oculta revelada por mim.
Poemas escondidos na série
(frases-poemas reveladas, fora de ordem)
"Falo da emoção que alimenta a alma"
"A beleza voa na brincadeira sutil"
"Pulsa o salto que celebra e se abre"
"Vejo a dor que sinto virar força"
"Transformo em beleza o brincar que imagino"
"A dor voa com força sutil"
"Percebo o ruído da profundidade misteriosa"
"Penso o mergulho que fala com coragem"
"A alma sente a beleza da alegria"
"Vejo o mergulho na alma com leveza"
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